ODiva

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terça-feira, 16 de novembro de 2010

Reescrevendo a história

Ainda ontem conversava com uma amiga sobre as possibilidades de se renovar, de renascer, cada vez que conhecemos alguém. Alguém que, não nos conhecendo não espera nada, e ao mesmo tempo espera tudo de nós. Amigos, amantes, namorados… O novo nos tira da rotina e nos dá a oportunidade de reagirmos diferente a algo que sempre reagiríamos igual… e assim sermos novos, mais potentes, mais felizes, quem sempre sonhamos ser!
Hj então divido com vcs um post mto bacana de  Gustavo Gitti ...aqui vai...

Será que a traição é o segredo para um casamento saudável?


Às vezes acontece sem querer, como na história real que relatei aqui em 2007: “Como ser o amante de sua própria esposa”. Mas meu interesse é experimentar tal inversão de modo consciente e lúdico.

Anteontem eu estava num chat rápido com minha namorada, convencendo-a a vir pra cá, em postura de solteiro xavecador profissional, quando me dei conta das inúmeras vezes que trato minha namorada como se ela não fosse minha namorada.

Sedução: a diferença entre amantes e maridos


Vamos começar comparando 2 conversas. A primeira entre duas pessoas que mal começaram a se explorar e a segunda entre um casal que namora há tempos. Em ambos, a intenção do cara é sexo irrestrito (novidade!).



Ele: Seguinte, vou passar aí e vamos aproveitar a única noite que presta no Rey Castro.

Ela: Não, hoje não vim preparada pra sair, to cansada, suja, imprestável… Amanhã?

Ele: Amanhã a banda é outra. Suja? Você acha que eu quero perfume? Eu quero você.

Ela: Hum… Continua…

Ele: Continuo, sim, mas dentro do carro assim que você entrar. Aliás, já cheguei, tempos modernos, to teclando do cel. Desce!

Ela: hahaha… Ok, te espero.



Seis linhas bem objetivas e temos mais um casal feliz no mundo. Eles são casados com terceiros, mas isso é o de menos em nossa análise. ;-) Vamos ao segundo casal:



Ele: Hoje é quarta, tem aquela banda de salsa no Rey Castro. Vamos?

Ela: Não, hoje não vim preparada pra sair, to cansada, suja, imprestável… Amanhã?

Ele: Amanhã a banda é outra. Mas tudo bem, a gente vai semana que vem. Amanhã a gente vê um filme, então.



O problema é que ele não queria sair com ela amanhã. Seu corpo estava bombando hoje, seu desejo, sua potência, o brilho no olho. Muito a oferecer. A salsa, não o cinema. Hoje! Não amanhã, porra! Tem dias que surge uma potência que precisa ser oferecida, como se fosse um presente que vem junto com uma bomba relógio. Um vigor que que não pode acabar em masturbação, que vem junto com uma vontade de atravessar nossa mulher, tirá-la do chão, fazê-la sorrir com cada uma das células até relaxar completamente com os cílios roçando em nosso peito. E ainda dizem que homem não vincula sexo a amor… Aham.



Dizem também que homens pensam com a cabeça de baixo. Mentira. Se homens ouvissem mais o próprio pau, eles não aceitariam “Não”, eles não cederiam ao cansaço – que era o verdadeiro interlocutor no lugar da mulher. O pau é preciso, insistente (como um sedutor profissional), imóvel, impetuoso, paciente: quando quer algo, faz de tudo pra conseguir, continua, continua, continua, até chegar em seu objetivo. Seus donos poderiam ser assim, não?



A mulher queria a salsa (ela reclamava silenciosamente por eles sempre terem adiado essa noite), mas o cansaço estava maior. Era preciso um homem para ajudar a quebrá-lo e injetar ânimo em suas veias. Um homem para abri-la às possibilidades da noite que ela mesma sempre quis.



Seu namorado muitas vezes não é esse homem. Ele a respeita, ele sabe como ela fica quando está cansada, ele aceita, tem a certeza de que a relação vai continuar, semana que vem eles vão, tem o cinema amanhã, é só chegar e beijar, ela é sua namorada quase noiva, a data do casamento só depende daquele padre, ele já comprou o anel, sexo garantido, vão assinar papéis, é sua mulher, sempre disponível, só ligar. Não sabe mais o significado de urgência. Ele não é seu amante.



Por isso às vezes penso que toda namorada eventualmente deveria se fazer de difícil, caso contrário o cara vai acabar exercitando suas habilidades de sedutor com outras. Ou pior: vai perdê-las.



O tesão masculino não é exatamente o sexo, mas a sensação de romper, ultrapassar, superar barreiras, limites, obstáculos, desafios. Hímen, manha feminina, mistérios do universo, oscilação das ações, confusões da mente, segredos do empreendedorismo, recordes dos esportes… É isso o que nos move. Quer conquistar um homem? Deixe um problema na mão dele. É assim que empresas conseguem ter homens ao redor por mais de 8 horas diárias, é assim que mulheres conseguem um pai para seus filhos.



Envolvimento: sobre como congelamos nossos parceiros

Na Cabana PdH, às vezes me assusto com o modo de que alguns caras falam de suas parceiras. Se o tema é relações paralelas, traição, ciúme, ele afirma com toda a certeza do mundo: “Ela nunca aceitaria isso, sofreria, acabaria com tudo”. Se o tema é sexo, mais certezas: “Ah, não, isso já tentei mil vezes, ela não gosta. Fazer o quê?”.



Minhas respostas são sempre variações da seguinte pergunta um tanto cruel: “Imagine outro cara com ela. Você tem certeza absoluta de que ela agiria do mesmo modo?”. Sempre desconfio de caras que dizem conhecer suas mulheres.



O envolvimento usual entre duas pessoas parece causar uma crescente solidificação de identidades. Quanto mais eles se conhecem, mais excluem outras possibilidades. Fecham espaço para surpresas e ainda tem a coragem de reclamar disso ao fim: “Não dava mais, acabei. Era tudo muito previsível, ele parou de me surpreender…”. A amiga deveria responder: “Mas é claro! Você mesmo impedia o cara de te surpreender”.



Num certo sentido, somos todos um pouco mães de nossos parceiros:



–Filho, por que você tá comendo esse mousse da sua tia? Você não odeia qualquer coisa com maracujá?

–Odiava, mãe, odiava. Mudei desde que sai daqui.

–Tá bom, mas come esse pavê que eu fiz pra você.

–Não gosto de pavê.

–Mas você adora pavê, filho! Lembro de como raspava a tigela… Toma, já coloquei pra você.



Desenvolvemos um padrão de relacionamento com o outro, começamos a surgir de um jeito, começamos a vê-lo de um jeito e, quando menos percebemos, nunca mais desconfiamos de que talvez o outro seja muito mais do que aparece para nós, de que outros o ativem de outro modo, de que ele encarne outros personagens com outras risadas, outras piadas, outros olhares, outros gestos. Às vezes vamos com a namorada visitar um primo das antigas e então nos surpreendemos com ela falando e olhando diferente diante dele. É como se fosse uma mulher que nunca havíamos encontrado!



O amante naturalmente possui essa sabedoria que muitas vezes falta ao galã principal. Ele sabe que a mulher tem uma outra relação, de que tem uma vida própria na qual provavelmente incorpora várias identidades. Ele mantém um desconhecimento saudável, uma espécie de ceticismo generoso. Ao ser perguntado sobre a amante, diz: “Não sei como ela agiria”.



Pensando bem, até mesmo os amantes sofrem da síndrome de crença mórbida do marido. Eles também congelam… Contudo, pela consistência de minha argumentação, vamos supor que estamos falando do arquétipo do amante, que tal? ;-)



O ponto é: sua namorada não é sua namorada, sua esposa não é sua esposa. Muito antes de ser sua namorada, ela foi namorada de outros, com os quais agia diferente, pensava diferente, sorria diferente, trepava diferente. Muito antes de ser namorada, ela é filha. Antes de ser filha, é mulher. É aluna, professora, jogadora de basquete, mestre em psicologia. Ou dentista, praticante de ioga, vocalista.



Ela é a liberdade de ser várias, cada uma com configurações corporais, expressões, movimentos, pensamentos específicos. Ela se conjuga sempre no plural. É um hardware sempre expansível com um software atualizado minuto a minuto (que as leitoras me perdoem, mas tem muito cara de TI que lê esse blog). É cambiante, é o vir-a-ser que já está em outro lugar no instante posterior ao nosso dedo apontado.



Ainda que aja com certos padrões, sua verdadeira natureza escapa de qualquer previsão. Impossível abraçá-la ou percorrê-la completamente. Ela é chuva, fogo, raio. Igual a você.



Consumação: como comer 20 mulheres de uma vez

Para cada mulher em nossa mulher, para cada identidade que não é a namorada ou a esposa, podemos gerar um amante específico. Podemos envolvê-la sem que ela abandone uma identidade para virar “a nossa namorada as we know it“.

Podemos ir até seu trabalho e seduzir a identidade que brota dentro do escritório. Conquistar a menininha que surge quando a família está ao redor. A mulher poderosa quando desce do palco depois de um show ou de uma palestra. A garota putinha que sai pra dançar quando está irritada com você. A velha desanimada e reclamona quando encontra a casa suja. A serelepe de cabelo preso do grupo de amigas da faculdade. A doutoranda aplicada lendo Foucault no sofá. A mãe, a massagista, a designer, a blogueira, a garota da academia, faxineira, a meditante, a turista… Podemos comer todas elas.

Ao fazer isso, ao despertar o constante Don Juan amante lover boy em nós, seguimos treinando nossa habilidade na arte da sedução. Ou melhor, nossa potência de atravessar, penetrar, abraçar, amar, dissolver, redirecionar, romper e transcender caras fechadas, mundos consolidados, ambientes sérios.

Olhamos para nossa mulher e vemos várias. E vemos também que muitas nos são invisíveis. Então abrimos mais os olhos. Quando chega uma delas, a funcionária cansada, lembramos que ela não é aquilo e logo miramos outra com nossos olhos, falamos com a outra como se ela estivesse atrás ou dentro da mulher que está à sua frente. Abrimos espaço para que outras surjam. E do nada sai a salseira, a dançarina, a party girl. E ela não está cansada, afinal não saiu de casa o dia todo!

Em vez de respeitar o cansaço, você diz sem dizer: “Foda-se o que você viveu hoje, eu quero te fazer esquecer, eu quero você comigo hoje”. Às vezes o cansaço dela se desfaz no primeiro segundo do beijo. Basta explicitar nosso desejo, ativar outras mulheres, trair nossa mulher cansada com a mulher pronta pra sair, fazer com ela tudo o que fantasiamos diariamente e facilmente faríamos com outras.

Ao usar sua mulher, ao olhá-la como sua amante, algo incrível acontece: você passa a ser o amante também. Ela ganha espaço para fazer aquilo que não vislumbrava ser possível com você, aquilo que nem mesmo ela conseguia imaginar sozinha. Ela vai usá-lo, vai trair sua identidade careta com o bad boy, vai pedir coisas que você mesmo nunca imaginaria ser viável, que nunca teria coragem de propor. Pode acreditar: as mulheres são muito mais loucas do que pensamos.

A mulher olha para o namorado e pensa: “É, eu trairia meu namorado facilmente com esse cara aí. Faria isso, depois pediria isso e acabaríamos assim…”.

O cara pega sua mulher com fúria e, sem culpa alguma, consuma o adultério fazendo tudo o que sempre quis fazer com uma amante.

Pois é, num mundo com casamentos infectados com traições, às vezes a cura para a doença vem do próprio veneno.

P.S.: Apesar de falar sobre a traição com um toque negativo na última frase, minha visão sobre relações paralelas é outra. Estou preparando um texto especificamente sobre isso: “O espectro do amor: para além de fidelidade e traição”.

P.S. realmente importante: Há exatamente 365 dias, 6 de fevereiro de 2009, eu conheci uma morena de cabelos cacheados e comecei o namoro sem que ela soubesse. Hoje meu presente de aniversário para ela é simples. Além de continuar sendo seu namorado, espero ser cada vez mais seu amante também. Talvez mais até. Uma legião de caras insaciáveis, será que ela dá conta?

Aqui minhas palavras agora (Tamyh) O segredo é fazer de cada dia um novo dia, uma nova história com a mesma pessoa, reescrevendo a cada dia. Olhá -la de forma diferente , repleta de segredos, com admiração , isso faz a história ser nova e bela a cada instante, penso que ai está a chave de um namoro, casamento de sucesso...

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