ODiva

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terça-feira, 1 de junho de 2010

Reflexão



O mal só nos afeta na medida em que o deixarmos


Os homens (diz uma antiga máxima grega) são atormentados pelas ideias que têm das coisas, e não pelas próprias coisas. Haveria um grande ponto ganho para o alívio da nossa miserável condição humana se pudéssemos estabelecer essa asserção como totalmente verdadeira. Pois, se os males só entraram em nós pelo nosso julgamento, parece que está em nosso poder desprezá-los ou transformá-los em bem. Se as coisas se entregam à nossa mercê, por que não dispomos delas ou não as moldarmos para vantagem nossa? Se o que denominamos mal e tormento não é nem mal nem tormento por si mesmo, mas somente porque a nossa imaginação lhe dá essa qualidade, está em nós mudá-la. E, tendo essa escolha, se nada nos força, somos extraordinariamente loucos de bandear para o partido que nos é o mais penoso e dar às doenças, à indigência e ao desvalor um gosto acre e mau, se lhes podemos dar um gosto bom e se, a fortuna fornecendo simplesmente a matéria, cabe a nós dar-lhe a forma.

Porém vejamos se é possível sustentar que aquilo que denominamos por mal não o é em si mesmo, ou pelo menos que, seja ele qual for, depende de nós dar-lhe outro sabor e outro aspecto, pois tudo vem a ser a mesma coisa. Se a natureza própria dessas coisas que tememos tivesse o crédito de instalar-se em nós por poder seu, ele se instalaria exactamente da mesma forma em todos; pois os homens são todos de uma só espécie e, excepto por algo a mais ou a menos, acham-se munidos de iguais orgãos e instrumentos para pensar e julgar. Mas a diversidade das ideias que temos sobre essas coisas mostra claramente que elas só entram em nós por mútuo acordo: alguém por acaso coloca-as dentro de si com a sua verdadeira natureza, mas mil outros dão-lhes dentro de si uma natureza nova e contrária.

Michel de Montaigne, in 'Ensaios'




FALANDO A RESPEITO DE CARINHO E CONSIDERAÇÃO


Carinho e consideração não devem ser apenas duas palavras...
São sentimentos que devem caminhar paralelamente...
Osculos e amplexos,
Marcial


Temos que entender que não é apenas o ato físico de se acarinhar alguém que pode ser chamado de carinho, eis que mais importante do que o carinho físico, é o carinho moral. É aquele apoio certo dado na hora certa, quando dele se necessita, e logicamente, quando ao carinho, se junta a consideração, que empresta sinceridade ao carinho, que assim não será algo feito mecanicamente, por obrigação.


E como é importante que ambos caminhem juntos, e pode-se dizer que existem de fato, quando o carinho é sincero, e, nesse caso, claro que tem haver a consideração em igual dosagem.
É muito fácil fazer um carinho, mas para que ele realmente seja sentido, é necessário que exista um real sentimento de afeição, de amizade, que é mesmo mais importante do que o amor propriamente dito, principalmente quando esse amor é um amor possessivo, egoísta, quando nos sentimos mais proprietários do que parceiros, quando não admitimos que o objeto de nosso amor tenha qualquer sentimento de carinho para com outras pessoas. Quando o relacionamento está nesse nível, os carinhos feitos não são sentidos com sinceridade. Um carinho para ser sincero, tem que passar a idéia de que o estamos fazendo apenas para agradar a quem amamos, e não com a idéia de marcar a posse, de mostrar que “somos donos de seu corpo e de sua vontade”, assim como os animais marcam seu território com sua urina.


Realmente não é por aí. O amor para ser bem vivido e sentido, não pode ser exclusivista. Temos que admitir que a pessoa que amamos, também pode ter sentimentos de amor ou de amizade para com outras pessoas. Temos que saber dividir, pois existem diversos tipos de amores. E o verdadeiro amor não prende, pelo contrário, deixa o sentimento de liberdade, pois o mais importante não é “termos” o amor de alguém, mas sim, de “sentirmos” esse amor, ou ainda, de “sermos” o amor desse alguém a quem amamos, de sentirmos que nossa companhia é-lhe agradável, que nosso amor é desejado, que nossos carinhos são bem recebidos. Jamais poderemos exigir a reciprocidade de nosso amor, mas sim esperar que nosso amor seja correspondido.


Precisamos saber conquistar esse amor, e antes de tudo, saber conquistar sua amizade, seu carinho, sua confiança. Saber respeitar seu espaço, para que o nosso também o seja. Essa é a real base para que o amor perdure, para que o relacionamento seja não só duradouro, mas também prazeroso. De que nos valerá ter uma companhia que apenas nos teme, ou que não nos deseja realmente? De que nos valerá saber que esse alguém a quem amamos apenas “está” a nosso lado, mas não sente prazer em nossa companhia? De que nos valerá ter essa posse transitória de um corpo, quando a alma está longe?


É importante lembrar uma mensagem de L’Inconnu sobre esse assunto:


Viva e deixe viver... É mais importante conceder o direito à vida e ao espaço, do que impormos o nosso... Permita que sua parceria respire em liberdade, e o ar ficará mais puro e mais agradável para ser respirado em conjunto...”


Quando conseguirmos conquistar a amizade e a confiança, estaremos prontos para conquistar o amor desejado. Quando soubermos respeitar o espaço e os direitos de liberdade de quem amamos, estaremos prontos para obter a reciprocidade de nosso amor.


Quando, finalmente, soubermos que os carinhos que fazemos estão sendo realmente sentidos, e que existe um sentido de consideração de parte a parte, estaremos prontos para viver um amor por muito tempo, cumprindo o famoso “até que a morte nos separe...”


É com este sentimento que desejo a todos e a você em particular, UM LINDO DIA.


Marcial Salaverry

A Nossa Dignidade Consiste no Pensamento


O homem é apenas um caniço, o mais fraco da natureza; mas é um caniço pensante. Não é preciso que o universo inteiro se arme para o aniquilar: um vapor, uma gota de água, bastam para o matar. Mas quando o universo o aniquilasse o homem seria ainda mais nobre do que o que o mata, porque sabe que morre, e a superioridade que o universo tem sobre ele; o universo não sabe nada disso.

Toda a nossa dignidade consiste portanto no pensamento. É daí que deveremos elevar-nos e não do espaço e do tempo, que não poderíamos preencher. Esforcemo-nos pois por pensar bem: eis o princípio da moral.



Blaise Pascal, in "Pensamentos


O POÇO E A PEDRA


“Um monge peregrino caminhava por uma estrada quando, do meio da relva alta, surgiu um homem jovem de grande estatura e com olhos muito tristes. Assustado com aquele aparecimento inesperado, o monge parou e perguntou se poderia fazer algo por ele. O homem abaixou os olhos e murmurou envergonhado:

“Sou um criminoso, um ladrão. Perdi o afeto de meus pais e dos meus amigos. Como quem afunda na lama, tenho praticado crime após crime. Tenho medo do futuro e não sinto sossego por nenhum instante. Vejo que o senhor é um monge, livre-me então desse sofrimento, dessa angústia!”- pediu ajoelhando-se.

O monge, que ouvira tudo em silêncio, fitou os olhos daquele homem e alguns instantes depois disse:
“Estou com muita sede. Há alguma fonte por aqui?”
Com expressão de surpresa pela repentina pergunta, o jovem respondeu:

“Sim, há um poço logo ali, porém nele não há roldana, nem balde. Tenho aqui, no entanto, uma corda que posso amarrar na sua cintura e descê-lo para dentro do poço. O senhor poderá tomar água até se saciar. Quando estiver satisfeito, avise-me que eu o puxarei para cima.”

O monge sorrindo aceitou a idéia e logo em seguida encontrava-se dentro do poço. Pouco depois, veio a voz do monge:

“Pode puxar!”

O homem deu um puxão na corda empregando grande força, mas nada do monge subir. Era estranho, pois parecia que a corda estava mais pesada agora do que no início. Depois de inúteis tentativas para fazer com que o monge subisse, o homem esticou o pescoço pela borda, observou a semi-escuridão do interior do poço para ver o que se passava lá no fundo. Qual não foi sua surpresa ao ver o monge firmemente agarrado a uma grande pedra que havia na lateral.

Por um momento ficou mudo de espanto, para logo em seguida gritar zangado:

“Hei, que é isso? O que faz o senhor aí? Pare já com essa brincadeira boba! Está escurecendo, logo será noite. Vamos, largue essa rocha para que eu possa içá-lo.”De lá de dentro, o monge pediu calma ao rapaz, explicando:
“Você é grande e forte, mas mesmo com toda essa força não consegue me puxar se eu ficar assim agarrado a esta pedra. É exatamente isso que está acontecendo com você. Você se considera um criminoso, um ladrão, uma pessoa que não merece o amor e o afeto de ninguém. Encontra-se firmemente agarrado a essas idéias. Desse jeito, mesmo que eu ou qualquer outra pessoa faça grande esforço para reerguê-lo, não vai adiantar nada.”

“Tudo depende de você. Somente você pode resolver se vai continuar agarrado ou se vai se soltar. Se quer realmente mudar, é necessário que se desprenda dessas idéias negativas que o vêm mantendo no fundo do poço. Desprenda-se e liberte-se.”

A escuridão nada mais é do que a falta de luz, assim como o mal é a ausência do bem. Quando pensamentos negativos turvarem nossa mente, nossa razão, ocultando nossos melhores sentimentos, busquemos a luz da verdade e o caminho do bem. Abandonemos as pedras da ignorância e do medo que nos mantêm prisioneiros de nossas próprias imperfeições, nos poços do egoísmo e do orgulho. ”

Autor desconhecido

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