Tenho pensado muito no tema perdão. Talvez por ter hoje consciência dos males que a mágoa, o ressentimento podem causar para a nossa saúde. Acredito que sempre mantivemos uma relação de amor e ódio com o perdão. Primeiro porque perdoar significa muito mais do que fazemos, dizemos que perdoamos, mas sempre nos lembramos de algo que nos magoou ao ter contato com o objeto que o provocou. Segundo porque representa para nós uma “vingança” estar sempre saboreando o acontecido. Não perdoar, soa como se castigássemos aquele que nos provocou a dor. Alimentamo-nos com a lembrança do sentimento como se quiséssemos dizer para o outro “olha estou sofrendo, veja o que fez, é sua culpa”.
È muito comum em casais que se separam e um deles, ou os dois, ao não assumirem a separação com certo grau de amadurecimento, fica preso ao que já acabou, transferindo a responsabilidade de ser feliz ao parceiro. Numa eterna troca de acusações, cheias de ressentimentos e mágoa.
Fred Luskin em seu guia O Poder do Perdão, usa uma imagem para identificar como os problemas não solucionados na nossa vida se comportam, e entre eles, as situações que não perdoamos e a permanecemos na nossa vida. Diz que são como aviões que voam dias e semanas sem pousar, consumindo recursos que podem ser necessários em casos de emergência. Os aviões de rancor se convertem em fonte de stress, de descontrole emocional, de pânico e outras doenças mais. Por isso, ele diz ainda, que o perdão é para nós mesmo e não para o outro, que muitas vezes nem sabe que nutrimos esse sentimento por ele. Ao perdoar, a idéia é nos livrarmos do passado, colocá-lo que lugar que tem, o que já passou, é viver hoje, sem os rancores para confundir as experiências do presente.
De uma experiência de muito sofrimento, fica mais difícil a superação e é necessário que tenhamos uma reserva, um espaço de liberdade interior que nos autorize a não se submeter às feridas, este é a chamada “resiliência”, conceito utilizado pela psicologia, tirado da física. A resiliência consiste na capacidade de superar as adversidade e ser forte durante as crises.
Há muitos exemplos de pessoas que passaram por grandes sofrimentos e superaram, perdoaram e tiveram vidas felizes, e há outras que persistiram no sofrimento que acabaram doentes e com fim trágico.
Pesquisas comprovam que não perdoar, ficar preso ao sofrimento, além do mal a saúde espiritual, faz mal ao físico, principalmente ao coração. E que a resiliência, capacidade de superar o sofrimento e perdoar, pode ser aprendida. Para que crianças desenvolvam a resiliência, é fundamental que tenha sido amadas, cuidadas, respeitadas, alimentadas, são experiências positivas que desenvolvem espaços de liberdade, de não submissão à adversidade. Para os adultos que não desenvolveram este espaço, o perdão é um dos ingredientes fundamentais.
Que aprendamos a perdoar, para a nossa própria felicidade e para a felicidade de quem amamos.
Cenir A.S.Montanher – novembro/2009
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